Velocidade e Batom: “O que eu achei de “F1: Drive to survive”


“O que eu achei de “F1: Drive to survive” by Ludy Coimbra

Para quem não sabe (acho meio impossível, mas...) a Netflix e a F1 produziram um documentário sobre a categoria. “F1: Drive to survive” na verdade é uma série documental de 10 episódios, gravada durante a temporada 2018 e produzida por James Gay-Rees e que foi colocada no ar no último dia 8 de março. 

Ontem eu finalmente acabei de assistir à produção e simplesmente amei. Portanto, se você ainda não a assistiu e não quiser spoilers, não continue lendo o texto. Mas se já terminou de ver como eu, fique à vontade para prosseguir. 

Uma das coisas que eu sempre amei sobre o esporte, especialmente a F1, é poder ter acesso aos bastidores, poder ver o que se passa fora da pista, as relações humanas. E este para mim foi o que mais alto da primeira temporada de “Drive to survive”. 

A forma como a série foi produzida, editada, os “vilões” e os “mocinhos” ficou muito bacana de ver, porque claramente nos dá acesso a uma outra parte da F1, que antes, só quem realmente segue a categoria assiduamente tinha uma ideia, mas ainda assim não tinha visto completamente. 

É óbvio que existe o fator enredo e que é clara a intenção dos produtores em estabelecer “personagens do bem e do mal”, mas para a gente que acompanha este esporte 24 horas por dia, durante 365 dias do ano, muito do que foi mostrado ali, a gente sabe que está bem perto da realidade. 

Eu vou confessar, nunca imaginei que Christian Horner (talvez porque eu sequer acompanhe o que ele faça) fosse um ser tão baixo. Dirigentes de equipe geralmente são seres horrendos, mas o inglês que manda na Red Bull é simplesmente asqueroso. 

E este comportamento do chefe da RBR respinga na rivalidade Max Verstappen contra Daniel Ricciardo. Depois de assistir ao seriado, fica ainda mais fácil de entender a decisão do australiano em deixar a equipe austríaca. Não havia a menor possibilidade dele continuar onde estava quando toda a equipe gira em torno do holandês “salvador da pátria”. 

E vou reforçar aqui o que sempre falo de Verstappen, ele não é sequer metade do piloto que ele pensa que é. Eu não faço parte da galerinha que lambe este rapaz. Ele não respeita limites, não respeita pessoas, não respeita os colegas, não respeita o esporte pelo qual compete, ele simplesmente não sabe o que é respeito. 

Já Ricciardo, que tem uma grande parte do foco da série nele, é o oposto. Piloto de talento, que sabe que conquistas vêm com dedicação, luta e respeito sim. Não é preciso destruir ninguém para provar que você é melhor. Se eu já admirava o australiano antes, depois desta série gosto mais e espero de verdade que ele consiga bons resultados na Renault (embora saibamos que será uma luta), especialmente para esfregar na cara do Christian Horner. 

Outro ponto que amei, toda a parte técnica da produção, a fotografia, o som, a edição. Eu fiquei extremamente impressionada com as largadas porque a gente sente aquela adrenalina de novo cada vez que eles mostram e ainda ouvimos o som que os carros fazem assim que largam. 

Quem já foi a uma corrida ao vivo vai entender exatamente o que falo. A sensação de que a propagação do som vindo dos carros faz um impacto dentro do seu peito. Sensação inesquecível. 

Também gostaria de falar como a F1, assim como a vida, é injusta. Todos nós sabemos que no mundo, quem tem dinheiro, tem tudo. Lance Stroll e Sergio Perez (embora por situações diferentes) mantiveram seus postos por terem dinheiro. Lance é de família milionária, era óbvio que quando o pai dele comprou a Force India, ele seria o piloto número 1. Já Perez teve a sorte de ter patrocinador endinheirado, mas embora ainda tenha talento, vai sofrer este ano na equipe, por razões que são óbvias né? 

E isto me leva a Esteban Ocon. No último ano eu peguei birra do francês porque ele foi bem debochado e desrespeitoso com Kimi, mas é simplesmente um absurdo que um piloto como ele esteja fora deste grid quando você vê quanta porcaria ficou ali. 

Além disto, pelo menos para mim, é de cortar o coração você ver uma pessoa ter seus sonhos e todo o sacrifício de uma vida, serem jogados no lixo porque você não nasceu endinheirado. Eu realmente me comovi com Ocon. E sinto muito por ele não ter tido a chance de continuar na categoria. 

Outro aspecto que tenho que mencionar é como esta F1 que hoje temos aí comete erros. Digo, os pilotos. Da galera da pista em 2018, acho que somente os mais velhos como Alonso, Kimi, Lewis, Hulkenberg e Ricciardo escapam desta estatística. Esta nova geração de pilotos que o mundo do automobilismo ama exaltar como magnífica, liderada pelo “grande” Verstappen, me dá calafrios. De verdade! 

E obviamente, tenho que falar de como a Ferrari e a Mercedes são pequenas. Não terem permitido que fossem filmadas em seus bastidores, só prova como elas simplesmente não fazem parte de um grupo. Elas só pensam em si. Embora eu não tenha sequer me surpreendido que ambas tenham agido assim. 

O que não me impede de ter ficado sim chateada de não poder ver algo de Kimi Räikkönen de uma forma mais profunda, achei errado sim que tenhamos sido privados da possibilidade de ver a briga dos pilotos lutando pelo título. Foi inclusive desrespeito com os torcedores de ambas as marcas. Isto só deixaria a série ainda mais bacana. 

Também quero falar mais duas coisinhas. Fernando Alonso me emocionou quando falou da paixão dele pelo kart. É impossível a gente não sentir como significa para ele e como isto foi importante e vital na carreira dele. E Kimi Räikkönen. Foram pouquíssimas as menções (Beat Zehnder e a foto na mesa do escritório dele em Hinwill, simplesmente amei), mas quando vejo o que vi e lembro que o finlandês é agora o “vovô” da F1, brigando com estes moleques que mal saíram das fraldas e reclamam de tudo, fico ainda mais orgulhosa do piloto para o qual torço. Ele senta e faz o que tem que ser feito. Não prejudica ninguém, não desrespeita ninguém. Ele está ali pelo prazer de pilotar e no momento em que isto acabar, ele vai partir sem sequer olhar para trás, porque ele sabe que a F1 não é tudo na vida dele. 

Para encerrar (porque o texto já está gigante), a F1 faz parte da minha vida desde que eu me entendo por gente, é meu esporte favorito, por isto esta série me encantou. Realmente. E vou parafrasear dois comentários aqui porque acho que eles resumem bem o sentimento da gente, torcedor de F1. 

Quando Gunther Steiner (chefe de equipe da Haas) comenta sobre como os ‘altos na F1 são realmente altos e as quedas são realmente destruidoras’ e quando Christian Horner fala sobre como ‘a categoria é algo tão viciante que nos suga de uma forma que somos incapazes de abandonar’. 

E se você é fã do esporte como eu, vai entender perfeitamente, porque as vitórias nos deixam no céu, tudo é perfeito (ainda que perfeição não exista), as derrotas nos colocam em um buraco que parece não ter fim e ainda que muitas vezes a gente tenha vontade de parar porque as coisas não estão como gostaríamos, a paixão pelo esporte, pela nossa equipe ou piloto favoritos, simplesmente nos impede de abandonar tudo. 

Beijinhos, Ludy

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