Há 20 anos...

Há 20 anos, Jacques Villeneuve saía de vez da sombra do pai e coroava temporada brilhante com título da Indy

Foi num 10 de setembro, exatamente como hoje, que Jacques Villeneuve confirmou que era Villeneuve, sim, mas muito mais que o filho de Gilles. Ao ser o piloto do ano, vencer a 'Indy 505' e impressionar, Laguna Seca deu o título da Indy a Jacques. E abriu o caminho da Europa ao canadense

Até 1995, Jacques Villeneuve era apenas, aos olhos da primeira divisão do automobilismo, o filho de Gilles. Claro que ser filho do que alguns consideram o maior piloto de todos os tempos mesmo sem jamais ter faturado um título da F1, um pupilo de Enzo Ferrari, um dos grandes talentos de todos os tempos, pode ser um fardo. Mas 1995 era o ano em que Jacques definiria que definitivamente seria muito mais em sua carreira.

Num dia 10 de setembro como hoje, Villeneuve largou na pole-position e encerrou uma temporada mágica na Indy, então Cart. Na verdade, completou o que eram dois anos incríveis, já que a temporada de estreia, em 1994, havia sido nada menos que impressionante. Mas foi ali em Laguna Seca, a bordo da Green azul patrocinada pelos cigarros da Player's, que Jacques transformou seu sobrenome em uma grife de segurança acompanhada por uma habilidade tremenda no cockpit.

A história

Aos 18 anos de idade, Jacques chegou na F3 Italiana, onde conseguiu alguma quilometragem. Mas a carreira dele nas categorias-escola estava apenas começando a rodar o mundo. Da Europa para a F3 Japonesa, onde foi vice-campeão em 1992, para a América, onde foi andar na Toyota Atlantic. Em seu segundo ano, foi terceiro colocado. Os dois primeiros, os também canadenses David Empringham e Claude Bourbonnais, eram bem mais velhos que Jacques.

Mas foi o bastante para a Forsythe/Green. Em 1994, a equipe estava subindo da Atlantic para a Cart e resolveu levar um de seus jovens pilotos. Villeneuve, aos 22 anos de idade, estreava, então, como piloto da Cart.

O novato levou exatas quatro provas para ir ao primeiro pódio: justamente um segundo lugar nas 500 Milhas de Indianápolis, se aproveitando de uma briga entre Al Unser Jr e Emerson Fittipaldi que acabou com o brasileiro no muro. Unser Jr venceu, com Jacques em segundo e Bobby Rahal, Jimmy Vasser, Robby Gordon e Michael Andretti num fortíssimo top-6.

A primeira vitória veio em Elkhart Lake, com ainda mais um pódio para encerrar a temporada em Laguna Seca. Competindo com pilotos consideravelmente mais experientes, Villeneuve terminou seu ano inicial com a equipe debutante como o Novato do Ano. Na classificação geral, foi sexto, à frente dos campeões mundiais de F1 Nigel Mansell e Mario Andretti.

Então veio 1995. E este foi o seu ano. E ele veio com mudanças para Villeneuve. Barry Green e Gerald Forsythe se separaram. Forsythe foi para um lado e se reuniu com Teo Fabi, com quem havia vencido algumas corridas nos anos 1980. A Green ficou tanto com Jacques Villeneuve, novamente o piloto único, quanto com a Player's, a patrocinadora máster.

Se o primeiro ano havia sido promissor, o segundo deu logo de cara o aviso. Em Miami, na única vez que Cart, IRL ou Indy passaram no Museum Park, a corrida era um marco. Grande vencedora da primeira metade do século XX, a Firestone voltava ao esporte após tê-lo abandonado em 1974. Mas Villeneuve teve uma atuação impecável e chegou apenas um pouco à frente da fileira que trouxe Maurício Gugelmin, Bobby Rahal e Scott Pruett. Era uma vitória, a segunda na categoria, primeira do ano.

Jacques primou pela regularidade em 1995. Não exatamente no início, porque abandonos o obrigaram a ter mais curtas suas participações na Austrália e em Long Beach, nas corridas dois e quatro do ano, ambas por conta de problemas no câmbio. No entanto, além da vitória em Miami, as duas provas foram seguidas com um quinto lugar, em Phoenix, e um segundo, em Nazareth.

A sexta corrida da temporada era exatamente as 500 Milhas de Indianápolis, onde o canadense batera na trave no ano anterior. O trabalho seria completado, sim, em 1995, mas não sem uma dose de polêmica e uma decisão de alta octanagem tomada pelos comissários da prova.

Para iniciar, a Penske, dominante um ano antes, nem sequer conseguiu se classificar para a prova. E a corrida começou com a batida de Stan Fox na primeira volta - uma das mais assustadoras da história, onde as pernas de Fox ficaram expostas, após a frente do carro ter sido cortada. As lesões de Fox simplesmente geraram o fim de sua carreira na Cart. Além de Fox, Eddie Cheever, Eric Bachelart, Gil de Ferran, Lyn St James e Carlos Guerrero se envolveram na grande batida.

A dez voltas do final, Scott Goodyear quis se adiantar na relargada, mas acabou passando o carro de segurança enquanto a prova ainda estava em bandeira amarela. Por conta disso, o piloto recebeu a punição de cumprir um stop-and-go. O piloto decidiu não fazer, afirmando que a luz verde já estava acesa. Cinco voltas depois, então, ele foi desclassificado.

O curioso é que algo bastante parecido havia acontecido com o próprio Villeneuve na primeira parte da prova: ele passou o carro de segurança bem antes da relargada, ainda no período de atenção. Depois de cumprir a punição, estava duas voltas atrás da liderança. Já que a pista do IMS tem duas milhas e Villeneuve tirou duas voltas de desvantagem para vencer, a corrida ganhou o apelido de 'Indy 505'. Depois do fim da corrida, ao assistir evidências em vídeo, a Tasman de Goodyear desistiu de fazer um protesto oficial, visto que realmente a manobra do piloto foi feita sob luzes amarelas.

Depois da Indy, Jacques seguiu com mais dois top-10: um sexto lugar em Milwaukee e um nono em Detroit. A sequência acabou interrompida com mais um abandono em Portland - cumprimentos de uma suspensão quebrada -, antes do retorno a Elkhart Lake, onde o #27 vencera a primeira na categoria. Seguido por Paul Tracy e Jimmy Vasser, Villeneuve mostrou que mandava em Road America - ganhou de novo, e a sete provas do fim da temporada, era de vez favorito.

A vitória em Elkhart Lake iniciou uma sequência de três pódios seguidos - quatro em cinco corridas -, e uma de seis top-10 consecutivos. Na primeira corrida da temporada no Canadá, em Toronto, Jacques ficou com o terceiro lugar. O que acabou por ser fundamental, porque Michael Andretti e Bobby Rahal, que naquele momento ainda se viam na disputa, ficaram com as duas primeiras colocações. Neste momento, a liderança era de 25 pontos para Rahal.

A diferença era boa, mas ficaria bem confortável na semana seguinte, quando a categoria chegou a Cleveland. Após três provas seguidas largando na pole-position, Jacques via De Ferran sair na frente. O novato brasileiro liderou boa parte da prova, foram 67 de 90 giros, mas dentre os quatro pilotos que chegara a ficar na ponta, foi Villeneuve quem menos liderou. Mas o mais importante é que ele ponteou nos dois giros finais e abriu 33 pontos na ponta do campeonato.

Nas 500 Milhas de Michigan, Villeneuve nem passou perto. Mesmo longe de brigar pela vitória, conseguiu somar mais dois pontos com o décimo lugar. Mas voltaria ao pódio logo em seguida, em Mid-Ohio. Novamente, Jacques fez a pole - a terceira da temporada - e brigou pela vitória. Perdeu, é verdade. Só que a vitória de Unser Jr aumentou a liderança do canadense. Rahal não completou a prova, enquanto Robby Gordon, que vinha em terceiro no campeonato, ficou com o oitavo posto. A três corridas do fim da temporada, Villeneuve tinha 37 seguros tentos de frente para Unser Jr.

A trinca final da temporada começava com a corrida de New England, em New Hampshire, que voltou a mostrar o traço fundamental do ano de Jacques: a regularidade. Sem passar perto da vitória e fora da liderança por toda a prova, Villeneuve conseguiu segurar um quarto lugar, enquanto Unser Jr, ressurgindo na renovada Penske, era terceiro. Esta prova marcou, também, o segundo brasileiro a se tornar vencedor na Indy, André Ribeiro, que dominou todo o final de semana.

Mesmo com a arrancada, Unser Jr ainda se via 35 pontos fora da liderança. E a briga era apenas entre ambos, visto que Rahal e Andretti já haviam ficado 55 e 56 pontos atrás, respectivamente, com 44 a serem disputados. O título podia ser garantido com uma corrida de antecipação e no Canadá.

O fim de semana começou bem em Vancouver. Villeneuve fez a pole, garantiu um ponto e ficou pelo sétimo posto. Se chegasse em sétimo, seria campeão em seu país ainda que Unser Jr saísse da prova com os 21 pontos possíveis - 20 pela vitória e 1 pelo maior número de voltas lideradas. Uma parte da equação de fato aconteceu: a vitória do então atual campeão. Mas Jacques ficou apenas com o 12º lugar e dois pontos. Ia para o final do ano com 16 tentos de vantagem.


Unser vinha, então, em uma sequência incrível. Duas vitórias, um segundo e um terceiro lugares, quatro pódios seguidos. E chegava ao fim, em Laguna Seca, com o 'momentum'. No sábado, no entanto, nova pole de Villeneuve. A sexta em 17 provas. Mais precisamente: seis nas últimas nove provas. 

Com o ponto, a conta para Jacques não era complicada. Precisava terminar a corrida no oitavo lugar ou ser décimo sendo o piloto que mais liderou. Isso, claro, contando que Unser Jr vencesse - e para que o canadense não precisasse contar com resultados de outros pilotos. 

O canadense liderou as primeiras 28 das 84 voltas, mas depois foi uma festa brasileira. Na realidade, um domínio de De Ferran com uma pitadinha de Gugelmin. Gil venceu - sua primeira vitória na categoria, aliás - e assegurou o prêmio de Novato do Ano. Paul Tracy foi o segundo e Gugelmin fechou o pódio. Sem Unser Jr. - que foi sexto - no top-2, nem importava a posição para comemorar. O 11º posto foi suficiente para Villeneuve sair do carro azul como mais novo campeão da Indy. Na última temporada antes da cisão entre Cart e IRL, que duraria quase dez anos. 

Naquele exato momento, Jacques, aos 24 anos, era campeão. Deixava de vez de ser apenas o filho de Gilles para ser o dono do cinturão da Indy e a 'commodity' mais quente do mercado. O mercado, no caso, era a F1. 

Para 1996, a Ferrari havia acertado com Michael Schumacher para um projeto de longo prazo e a McLaren levara David Coulthard da Williams. A briga entre Coulthard e a Williams, na verdade, durava desde 1994, quando ambos brigaram judicialmente para que o piloto permanecesse preso ao contrato e não se juntasse à McLaren em 1995. A força durou um ano, mas não era solução para 1996. Então, para dividir a garagem com Damon Hill, a equipe de Grove foi atrás de Villeneuve. Talentoso, agressivo, jovem e com o sobrenome certo, seria difícil pensar num novato melhor. 

E Jacques não decepcionou. Treinou tanto quanto foi possível numa época que a F1 permitia, se preparou - e também caiu num ano em que a Williams voltou a ser a força dominante. Foram quatro vitórias e um vice-campeonato naquele ano, seguidas por sete vitórias e o título mundial de 1997, marcado pela cena de Schumacher jogando o carro para cima do canadense tentando evitar a ultrapassagem inevitável na corrida final do ano, o GP da Europa em Jerez de la Frontera. 

As decisões tomadas depois, bem, foram tomadas depois. Nada que mudasse a história e arrancasse de Villeneuve o lugar nos livros do automobilismo como um dos maiores pilotos do mundo da década de 1990.

Fonte: Grande Prêmio

Ler este texto escrito por Pedro Henrique Marum me trouxe lembranças de uma época tão bacana. E de tantas coisas boas!  

Neste dia 10 de setembro, meu aniversário, há 20 anos, eu via Jacques pilotar pela primeira vez. Lembro como se fosse hoje. Ainda não era fã dele, mas foi quando o descobri. Eu vi este dia acontecer, esta corrida, o título que mudou a vida dele. 

Há 20 anos eu era apenas uma adolescente, mal sabia o que aconteceria comigo com relação a Jacques, mal sabia eu que seis meses depois ele entraria na minha vida para nunca mais sair. Que me ensinaria tanto sobre automobilismo, sobre um novo idioma, que com ele eu aprenderia a amar o Canadá, a me interessar por um pouquinho de ice hockey (o que aprimorei com Kimi... rsrsrs), que eu ganharia uma amiga (Luane), que eu o conheceria pessoalmente depois de achar que jamais teria esta chance.

Se eu não tivesse visto esta corrida do dia 10 de setembro de 1995, mesmo que despretensiosamente, este espaço jamais teria nascido, porque eu não prestaria atenção nele quando ele chegou à F-1, meses depois.

Jacques é o responsável pela existência do Octeto. Villeneuve é a razão pela qual nós começamos tudo isto. Sem ele não haveria a amizade que uniu a mim e a Lu, e este espaço que tanto amamos não teria sido sequer sonhado.

E o último parágrafo deste texto que compartilhei acima foi simplesmente foi perfeito!!!! 

Beijinhos, Ludy

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