Descascando batatas

Coluna Superpole, por Victor Martins: As batatas

Não houve quem não tivesse assegurado que, no momento da assinatura do contrato, a passagem de bastão do velho Michael Schumacher para Lewis Hamilton era uma claríssima indicação de que a Mercedes optava não só por um campeão mais novo, mas seu primeiro piloto. Alguém que, livre da frigideira da McLaren, pudesse trazer conhecimento de longa data, identificando os problemas que impediam a equipe de brigar com a própria equipe de Woking, a Red Bull, a Ferrari e até a Lotus.

Resumidamente, Hamilton deixava a equipe da paridade de forças com Button e chegava como salvador no mesmo patamar de Sebastian Vettel, Fernando Alonso e Kimi Räikkönen. A Nico Rosberg, que sobrassem as batatas para descascar como os rotulados ‘segundões’.

Rosberg vem descascando batatas desde seu início. Em 2006, pegou uma Williams que se arrumava para voltar a ser grande ao lado de Mark Webber. Novato, fez a melhor volta logo em sua primeira prova no Bahrein. No geral, ficou atrás daquele que carregava a pecha de ‘leão de treino’ e que tinha a leve fama de destruidor de companheiros. Nos pontos, foi só 7 a 4; a Williams não mudou muito, nota-se. No ano seguinte, o australiano entrou pela porta que a Red Bull lhe abriu e Kazuki Nakajima ocupou seu lugar junto com os motores Toyota. Nico bateu em morto em dois anos de agruras – no primeiro deles, o japonês sequer pontuou. Na terceira temporada juntos, em 2009, a Williams esboçou uma evolução, Rosberg deitou e rolou sobre o incrivelmente zerado filho de Satoru, que foi devolvido à loja com defeito. Cansado de engrossar aquele purê, Nico não pensou duas vezes em aceitar o convite da Mercedes, que retornava à F1.

Só que o alemão deixava cadafalso para jogá-lo ao lado de Schumacher, o jacaré que o devoraria.

 Enquanto via Barrichello sofrer com seu carro antigo e deixar às claras que o problema lá na Williams não era ele, Nico ia fazendo o seu: guiar a ponto de o mundo se questionar logo de cara se aquele era o velho heptacampeão ou seu arremedo. Três temporadas depois, Rosberg tinha o peito estufado por uma vitória e cinco pódios com aquele carro que era mais do mesmo e reaposentou aquele piloto que não era o mesmo. E ainda assim, Nico levava na testa a interrogação sobre sua qualidade, a ponto de todos o rebaixarem novamente quando da chegada do amigo Hamilton.

As seis corridas disputadas nesta temporada põem, sim, Hamilton à frente na pontuação, 62 a 47. Lewis não abandonou nenhuma prova; Nico foi traído em duas, Austrália e China. Nas poles, ninguém bate a Mercedes desde o fim de março, mas é Rosberg quem vem na sequência de três comemorações. E a maior delas veio na última corrida em Mônaco, quando foi absoluto em todo o fim de semana, liderando todos os treinos e todas as voltas, coisa raríssima nos tempos atuais. O inglês já anda meio desnorteado, e ao vencedor, ainda as batatas, porque se Lewis está assim, ainda hão de dizer, é porque não se adaptou plenamente, mas quando estiver tinindo, pobre Nico.

E assim vai, com a faca entre os dentes e na mão, descascando no porão. Daqui alguns anos quando terminar a carreira, provavelmente sem ter sido campeão, não vai ser posto nem em um top-50 nas listas dos catedráticos de todos os tempos. Estamos sendo justos com Rosberg? Não. É estranho ainda tratar assim alguém que fez de Schumacher um nada em sua segunda passagem pela F1 e, na condição de segundo piloto tão óbvia da Mercedes, mantém na prática o posto de #1.

Fonte: Grande Prêmio

Não preciso falar mais nada. Victor resumiu bem. Nico nunca teve um carrão na F1 e mesmo assim sempre batalhou e superou tudo a que se dipôs. Mesmo assim, todo mundo ainda o olha com desconfiança. 

Com o tempo, acho que ele aprendeu a se lixar para isso e confiar nele mesmo. Nunca - o acompanho desde 2005 - senti Nico aborrecido por não ser citado como um grande e mimimi. Sempre nessa linha faço o meu trabalho o melhor que posso e corro para mim mesmo e supero o que tenho que superar com o que tenho. Também nunca vi reclamar de carro ou equipe na imprensa.  Gosto disso.

By Lu

Comentários

Hugo disse…
Nico me lembra o Massa antes da molada.. sempre subestimado mas sempre com muito esforço dava um show.

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