Um dia com Jacques Villeneuve

Ídolo e protagonista, Villeneuve se vê constrangido. Com tantas regalias

Jacques Villeneuve vai e vem nos boxes, sorri, dá entrevista e atende todo mundo. Nem parece um piloto que tem no currículo o título da F1 e da Indy. Com ele, o inseparável iPhone. O Grande Prêmio acompanhou o dia do canadense, que admitiu que está meio encabrunhado com as regalias. Ele quer ser como os outros

EVELYN GUIMARÃES [@eveguimaraes]
de Interlagos

Jacques Villeneuve nunca foi um cara convencional. E contrário ao que muita gente aí acostumou-se a ouvir por conveniência, sempre esteve longe do estereótipo de piloto, em que muito a vaidade e a arrogância imperam. De estilo despojado, chegou à F1 aos 25 anos depois do título na Indy e da vitória na mítica 500 Milhas de Indianápolis. Usava óculos e não fazia questão de fazer parte da ala deslumbrada da categoria. Pode-se dizer que o mundo elitizado da F1 levou um susto quando o ainda garoto Jacques não quis saber de falar do pai, de uma possível reedição dos feitos de Gilles e ainda decidiu que estrearia na categoria máxima pela Williams, equipe rival da Ferrari.

De fato, Villeneuve nunca quis saber de comparações com o pai, Gilles, herói na Ferrari e considerado uma lenda da F1. Nunca teve medo de expor sua opinião e de uma boa briga. E nunca se mostrou preocupado com as críticas. O jeitão de “não estou nem aí” nunca ficou tão claro como depois que deixou a F1.

Crítico ferrenho da politicagem que caracteriza a principal categoria do automobilismo, Jacques falou em Interlagos que não tinha mais interesse na F1, criticou a Indy, campeonato em que conquistou o título em 1995, e disse também que não voltaria mais à série norte-americana. O que lhe agrada mesmo é a Nascar e seu estilo sem regras e fora da lei, onde quem pode mais chora menos. Onde a pista de fato é uma arena onde os touros estão livres.

Apesar da personalidade forte e da imagem de chato, cri-cri e arrogante, o piloto esbanja bom humor e simplicidade, além de, aos 40 anos, ter planos de seguir a carreira até o fim dos seus dias. “Acho que vou correr até morrer. Fiz isso a vida toda, desde os cinco anos, quando decidi que queria competir”. Villeneuve está a procura de competição pura, mas sem pressão e muito compromisso. O convite para correr na Corrida do Milhão foi aceito de pronto. “Tinha o fim de semana livre, então é isso.”

E essa despreocupação e liberdade ficaram evidentes na chegada do piloto ao Brasil e seu comportamento nesta semana em Interlagos. De cara, o piloto deixou o forte temperamento claro e disse que não queria saber de regalias. Mostrou simpatia com todos, de torcedores a jornalistas, que o procuraram nos boxes. Aliás, na garagem da equipe é raro não vê-lo perto ou dentro do carro. Nos momentos de descanso, Jacques usa uma salinha pequena, atrás dos pits, onde se diverte com filmes e músicas no iPhone, quase inseparável. O canadense anda com o aparelhinho preto no bolso do largo, quase imenso, macacão, que tem esse tamanhão todo devido à alergia do piloto ao nomex.

Fernando Paiva, engenheiro e hoje manager, acompanha Villeneuve na ponte com os engenheiros e mecânicos na Stock Car. Para ele, as grandes características do campeão de 1997 são a “serenidade e calma com que leva a vida e a grande paixão que possui pelas corridas”. E ainda disse que “essa ponte nem tem sido tão necessária”. “Ele presta tanta atenção nos gestos dos engenheiros, dos mecânicos, que nem preciso muito falar o que está acontecendo. É natural.”

A simplicidade também ficou evidente nas exigências de Villeneuve. Ou melhor, das não exigências. Não quis nome diferente na reserva do hotel, preferiu ir e vir de carro por São Paulo e não fez nenhum pedido exótico ou regulado quanto à alimentação, apenas uma massa e carne – mal passada. Os responsáveis pela vinda do canadense ao Brasil tiveram o cuidado de trazê-lo ao autódromo em carro blindado. O desembarque do piloto acontece praticamente à porta dos boxes. Tudo em nome da segurança. Mais uma vez, Villeneuve revelou um traço curioso da controvertida personalidade. Pediu mais de uma vez para que os responsáveis não o deixem mais no paddock. O piloto se sentia constrangido. “Quero ser como todo mundo”. De agora em diante, vai descer no estacionamento e vir carregando o capacete, “como todos os pilotos”.

Fonte: Grande Prêmio/Foto:Carsten Horst/Hyset

Ai, ai, ai... Jacques é simplesmente inacreditável e adorável. Isto tudo constatado acima pela jornalista do Grande Prêmio, esta simplicidade, simpatia e bom-humor, sempre foram características conhecidíssimas pelos fãs do canadense.

A F1 endureceu um pouco Jacques depois de um certo tempo, como faz com qualquer um, mas ainda bem que esta fase já passou!

Só fico mesmo é pensando como este mundo é surreal, hoje, os textos sobre o canadense são permeados com elogios e não críticas baseadas no fato de que ele era companheiro de pilotos brasileiros, o tornando assim, inimigo da nação. #voltasqueomundodá

Beijinhos, Ludy

Comentários

Gisele disse…
Concordo com seu comentário, Ludy. Não sei pq antes gostavam tanto de atacar o villeneuve, principalmente o mala do Galvão.
Ele é uma ótima pessoa, simples, simpático, inteligente... o texto da Evelyn resume tudo isso muito bem.

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